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Etapa 2 – Lendo e interpretando memórias literárias

     Através da leitura e interpretação do texto: “Trem fantasma” de Moacyr Scliar os objetivos são: aproximar os alunos das memórias de mães, fomentar a escrita de memórias e também fazer uma comparação com o texto trabalhado anteriormente para perceber as semelhanças e diferenças entre ambos.

 

     Professor (a):

     Sugerimos fazer essa comparação entre os textos para que os alunos possam ter a oportunidade de perceberem que o gênero memórias pode ser escrito de formas diferentes, embora siga as mesmas características.

 

     TREM FANTASMA

     Afinal se confirmou: era leucemia mesmo a doença de Matias, e a mãe dele mandou me chamar. Chorando, disse-me que o maior desejo de Matias sempre fora passear de Trem Fantasma; ela queria satisfazê-lo agora, e contava comigo. Matias tinha nove anos. Eu, dez. Cocei a cabeça.

     Não se poderia levá-lo ao parque onde funcionava o Trem Fantasma. Teríamos de fazer uma improvisação na própria casa, um antigo palacete nos Moinhos de Vento, de móveis escuros e cortinas de veludo cor de vinho.

     A sessão teve lugar a 3 de julho de 1956, às 21 horas. O minuano assobiava entre as árvores, mas a casa estava silenciosa. Acordamos o Matias. Tremia de frio. A mãe o envolveu em cobertores. Com todo o cuidado colocamo­-lo num carrinho de bebê. Cabia bem, tão mirrado estava. Levei-o até o vestíbulo da entrada e ali ficamos, sobre o piso de mármore, à espera.

     As luzes se apagaram. Era o sinal. Empurrando o carrinho, precipitei-me a toda velocidade pelo longo corredor. A porta do salão se abriu; entrei por ela. Ali estava a mãe de Matias, disfarçada de bruxa (grossa maquilagem vermelha. Olhos pintados, arregalados. Vestes negras. Sobre o ombro, uma coruja empalhada. Invocava deuses malignos).

     Dei duas voltas pelo salão, perseguido pela mulher. Matias gritava de susto e de prazer. Voltei ao corredor.

     Outra porta se abriu – a do banheiro, um velho banheiro com vasos de samambaia e torneiras de bronze polido. Suspenso do chuveiro estava o pai de Matias, enforcado, língua de fora, rosto arroxeado. Saindo dali entrei num quarto de dormir onde estava o irmão de (sobre o tórax magro, costelas pintadas com tintas fosforescentes; nas mãos, uma corrente enferrujada). Já o gabinete nos revelou as duas irmãs de Matias, apunhaladas (facas enterradas nos peitos; rostos lambuzados de sangue de galinha. Uma estertorava).

     Assim era o Trem Fantasma, em 1956.

     Matias estava exausto. O irmão tirou-o do carrinho e, com todo o cuidado, colocou-o na cama.

     Os pais choravam baixinho. A mãe quis me dar dinheiro. Não aceitei. Corri para casa.

     Matias morreu algumas semanas depois. Não me lembro de ter andado de Trem Fantasma desde então.

     (Moacyr Scliar, Os melhores contos. São Paulo: Global, 1996. Adaptado)
 

     1.O conto “Trem Fantasma” inicia com a confirmação da doença de Matias. Qual foi a atitude de sua mãe ao receber esta notícia?

     2. Quem era o narrador do texto, que foi chamado pela mãe do menino? O que ele fez para ajudar essa mãe?

     3.Como se comportou a família de Matias, ao saber de sua doença?

     4. Que sentimentos da mãe podem ser evidenciados a partir do texto?

     5. Esse texto também descreve memórias. Comparando-o com o texto da aula anterior “ Cem anos de perdão”, o que eles têm de semelhanças e diferenças?

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