Etapa 10 - Refletindo sobre o papel social de pais e mães
Através dessa atividade, os alunos terão a oportunidade de refletirem sobre o papel social de mães e pais na educação dos seus filhos. Os alunos receberão um texto e após responderem às questões de interpretação farão uma roda de conversa para debater sobre o tema.
TEXTO Mãe
(Crônica dedicada ao Dia das Mães, embora com o final inadequado, ainda que autêntico.)
O menino e seu amiguinho brincavam nas primeiras espumas; o pai fumava um cigarro na praia, batendo papo com um amigo. E o mundo era inocente, na manhã de sol.
Foi então que chegou a Mãe (esta crônica é modesta contribuição ao Dia das Mães), muito elegante em seu short, e mais ainda em seu maiô. Trouxe óculos escuros, uma esteirinha para se esticar, óleo para a pele, revista para ler, pente para se pentear — e trouxe seu coração de Mãe que imediatamente se pôs aflito achando que o menino estava muito longe e o mar estava muito forte.
Depois de fingir três vezes não ouvir seu nome gritado pelo pai, o garoto saiu do mar resmungando, mas logo voltou a se interessar pela alegria da vida, batendo bola com o amigo.
Então a Mãe começou a folhear a revista mundana — “que vestido horroroso o da Marieta neste coquetel” — “que presente de casamento vamos dar à Lúcia? tem de ser uma coisa boa” — e outros pequenos assuntos sociais foram aflorados numa conversa preguiçosa.
Mas de repente:
— Cadê Joãozinho?
O outro menino, interpelado, informou que Joãozinho tinha ido em casa apanhar uma bola maior.
— Meu Deus, esse menino atravessando a rua sozinho! Vai lá, João, para atravessar com ele, pelo menos na volta!
O pai (fica em minúscula; o Dia é da Mãe) achou que não era preciso:
— O menino tem OITO anos, Maria!
— OITO anos, não, oito anos, uma criança. Se todo dia morre gente grande atropelada, que dirá um menino distraído como esse!
E erguendo-se olhava os carros que passavam, todos guiados por assassinos (em potencial) de seu filhinho.
— Bem, eu vou lá só para você não ficar assustada.
Talvez a sombra do medo tivesse ganho também o coração do pai; mas quando ele se levantou e calçou a alpercata para atravessar os vinte metros de areia fofa e escaldante que o separavam da calçada, o garoto apareceu correndo alegremente com uma bola vermelha na mão, e a paz voltou a reinar sobre a face da praia.
Agora o amigo do casal estava contando pequenos escândalos de uma festa a que fora na véspera, e o casal ouvia, muito interessado — “mas a Niquinha com o coronel? não é possível!” — quando a Mãe se ergueu de repente:
— E o Joãozinho?
Os três olharam em todas as direções, sem resultado. O marido, muito calmo — “deve estar por aí”, a Mãe gradativamente nervosa — “mas por aí, onde?” — o
amigo otimista, mas levemente apreensivo. Havia cinco ou seis meninos dentro da água, nenhum era o Joãozinho. Na areia havia outros. Um deles, de costas, cavava um buraco com as mãos, longe.
— Joãozinho!
O pai levantou-se, foi lá, não era. Mas conseguiu encontrar o amigo do filho e perguntou por ele.
— Não sei, eu estava catando conchas, ele estava catando comigo, depois ele sumiu.
A Mãe, que viera correndo, interpelou novamente o amigo do filho. “Mas sumiu como? para onde? entrou na água? não sabe? mas que menino pateta!” O garoto, com cara de bobo, e assustado com o interrogatório, se afastava, mas a Mãe foi segurá-lo pelo braço: “Mas diga, menino, ele entrou no mar? Como é que você não viu, você não estava com ele? Hein? Ele entrou no mar?”.
— Acho que entrou… ou então foi-se embora.
De pé, lábios trêmulos, a Mãe olhava para um lado e outro, apertando bem os olhos míopes para examinar todas as crianças em volta. Todos os meninos de oito anos se parecem na praia, com seus corpinhos queimados e suas cabecinhas castanhas. E como ela queria que cada um fosse seu filho, durante um segundo cada um daqueles meninos era o seu filho, exatamente ele, enfim — mas um gesto, um pequeno movimento de cabeça, e deixava de ser.
Correu para um lado e outro. De súbito ficou parada olhando o mar, olhando com tanto ódio e medo (lembrava-se muito bem da história acontecida dois a três anos antes, um menino estava na praia com os pais, eles se distraíram um instante, o menino estava brincando no rasinho, o mar o levou, o corpinho só apareceu cinco dias depois, aqui nesta praia mesmo!) — deu um grito para as ondas e espumas — “Joãozinho!”.
Banhistas distraídos foram interrogados — se viram algum menino entrando no mar — o pai e o amigo partiram para um lado e outro da praia, a Mãe ficou ali, trêmula, nada mais existia para ela, sua casa e família, o marido, os bailes, os Nunes, tudo era ridículo e odioso, toda essa gente estúpida na praia que não sabia de seu filho, todos eram culpados — “Joãozinho !” — ela mesma não tinha mais nome nem era mulher, era um bicho ferido, trêmulo, mas terrível, traído no mais essencial de seu ser, cheia de pânico e de ódio, capaz de tudo — “Joãozinho !” — ele apareceu bem perto, trazendo na mão um sorvete que fora comprar.
Quase jogou longe o sorvete do menino com um tapa, mandou que ele ficasse sentado ali, se saísse um passo iria ver, ia apanhar muito, menino desgraçado!
O pai e o amigo voltaram a sentar, o menino riscava a areia com o dedo grande do pé, e quando sentiu que a tempestade estava passando fez o comentário em voz baixa, a cabeça curva, mas os olhos erguidos na direção dos pais:
— Mãe é chaaata…
Maio, 1953
Rubem Braga
Fonte: http://blogdoinhare.blogspot.com/2016/05/m.html visita em 16 de fev. 2021
QUESTÕES SOBRE O TEXTO DE RUBEM BRAGA:
Mãe (Crônica dedicada ao Dia das Mães, embora com o final inadequado, ainda que autêntico.)
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Como podemos interpretar a inserção do subtítulo entre parênteses “Crônica dedicada ao Dia das Mães, embora com o final inadequado, ainda que autêntico” ?
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O texto descreve momentos vividos por uma família na praia. Como os membros dessa família se comportam? O pai, a mãe e o filho?
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O que o comportamento da mãe e do pai, em relação ao filho, revelam?
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Você acredita que a mãe tinha motivos para ficar nervosa, da maneira descrita no texto? Justifique.
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Descreva o que você acredita que poderia ser feito para evitar a família de passar pelas situações descritas no texto.
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Você acha que o comportamento da mãe influenciava o comportamento do pai? Por quê?
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Reflita sobre as atividades do pai. Ele tinha razão em estar tranquilo com o sumiço do filho? Justifique.
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Por que, ainda hoje, as mães, na maioria das vezes, são mais preocupadas e vigilantes do que os pais em relação aos filhos? Essas atitudes das mães são as ideais? Qual o papel dos pais diante dessas situações?
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Descreva de que forma você acredita que os pais podem contribuir com as mães na criação dos filhos.
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Os pais se sentem tão responsáveis quanto às mães? Justifique.
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Após ler o texto, você concorda que a crônica não apresenta um final adequado para homenagear as mães pelo seu dia, mas que é, como diz o autor “autêntico”? Por quê?
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Você acredita que a sociedade atual vê pais e mães da mesma maneira? Por quê?
13. Ao final do texto, o filho descreve a mãe em uma palavra: “Mãe é chaaata...” Algumas vezes, o pai acaba sendo sempre “o mais legal”, que deixa fazer tudo, e a mãe é a chata, que dá limites. O que você tem a dizer sobre essas afirmações? Justifique.